quinta-feira, 15 de julho de 2010

Sopa de Pedra Mineira



Só caio na real de que já estou em Ouro Preto quando olho pela janela do meu quarto. Foi tudo tão rápido! Acorda, escova os dentes, toma banho, pega a mala, Juju deixa a gente no aeroporto, check-in, embarca, começo a ler e já desembarca, pega o carro e pé na estrada. serão cerca de 120 km até a antiga Vila Rica.

O Fiat Palio Weekend 1,4 ano 2010 apresenta um pouco mais de 5000 km rodados, mas logo percebo barulhos na suspensão dianteira que me faz acreditar estar num carro com 105.000 ou 205.000 km de uso.

Agora me lembrando deste detalhe no conforto do meu quarto no Luxor Hotel, centro histórico, entendo o porque de tamanha percussão na suspensão da coitada da Weekend: as estradas federais que peguei são simplesmente horríveis. O asfalto da BR 040 e da BR356 estão pior que estrada de terra. O carro vai pulando e vibrando seja qual for a velocidade. Sem contar que tem somente uma pista, acostamento temeroso, enormes sonorizadores entre os sentidos e, o pior, os motoristas lentos e de pesados caminhões não facilitam a ultrapassagem de jeito nenhum... Como estou passeando, aproveito a velocidade baixa para apreciar a paisagem e deixo o trabalho duro para o fiatizinho que socoleja reclamando, clanck, plank, tum-tum-tum...

Antes que meu corpo apresentasse algum sintoma de cansaço ou fome já estamos em Ouro Preto. Saco uma foto da janela do quarto e vamos caminhar para o local indicado para o almoço: Bené da Flauta.


O sobrado histórico foi transformado num simpático restaurante, depois de restaurado o imóvel e decorado com muito bom gosto. A primeira impressão foi positiva (apesar de estar tocando um baião arretado que em nada combina com a casa nem com a cidade mineira). O Bené da Flauta está representado no quadro ao fundo do salão, com seu uniforme de banda. Ao contrário do clima frio de São Paulo, aqui o sol está quente e firme; nada indicado para um bom tinto. Escolhemos chopp artesanal (Falke Bier) e uma cachaça da terra para quebrar o gelo.


Acertamos na mosca! A cachaça era límpida e transparente. Há tempos tenho preferido a branca para acompanhar antepastos e introduzir refeições, deixando a envelhecida para fazer companhia aos hoje raros charutos após o pasto. A madeira amacia a bebida mas esconde alguns defeitos, na minha opinião. A cachaça branca tem que ser boa mesmo para agradar, descer macio, apimentar o paladar sem agredir a boca e estragar a sensibilidade. A de hoje tinha aquele aroma e sabor de campo, lembrava a cana sem ser doce nem ácida. Uma autêntica mineira de qualidade.

O Chopp completou a dupla. Antes de sorver o primeiro gole, aspirei sobre o copo e senti todo o perfume do lúpulo que aliado ao frescor da bebida e ao gás ainda sendo liberado pela espuma cremosa, lembrava de longe o aroma "tutti-frutti".


O honesto e saudável couvert do Bené: tomates, abobrinhas, pimentões e beringelas, todos assados, bem temperados e regados com azeite. Com o pão caseiro, delícia!


A Cris, talvez subliminarmente influenciada pela musica ambiente, escolheu uma deliciosa carne seca acompanhada de purê de abóbora (moranga), arroz de alho (um pouco over e deixado de lado por nós) e couve frita (crocante). Só mesmo experimentando para entender que incrível combinação de texturas e sabor quando colocadas juntas (purê, carne seca e couve) na mesma bocada. O purê foi o melhor que já comi; não era gorduroso nem enjoativo, não era adocicado nem temperado em excesso. Tenho vontade de voltar no Bené e pedir esse prato.


Eu pedi uma coisa típica mineira para entrar no clima do lugar, e mesmo sem ser fã de quiabo, pedi uma galinha ensopada com quiabo "al dente", arroz branco e angú. O prato é servido numa panela de pedra, que manteve bem quente o molhinho (que a toda hora eu regava o angú e arroz). Recomendo. Passei a gostar mais de quiabo depois desse prato. Por isso que sempre arrisco uma novidade nos meus pedidos e sempre, sempre mesmo, sem modificar ou retirar alguma coisa da receita só por que penso não gostar de algum item. 

Durante muito tempo acreditei não gostar do sabor metálico das alcaparras. Seguindo meu princípio, não pedia para tirar as mesmas quando ordenava um Carpaccio, uma Caponata ou uma pasta alla Putanesca. Hoje as alcaparras fazem parte do meu universo gastronômico! É isso aí.

Para completar o almoço à mineira, queijo meia-cura e doce de goiaba acompanhado daquele expresso amargo, do jeito que nós gostamos. Solicitei a conta e levei um susto: foi muito mais barato do que eu imaginava! Fiquei freguês com certeza.

Uma caminhada para gastar as energias acumuladas e depois conto mais.

3 comentários:

  1. Esse seu post quase nem me deixou com fome.. eu aqui comendo o que restou do nosso jantar ontem... hahahaha
    Embrulha um pouco para viagem e me traga :)

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  2. Giu, quer jantar com a gente? rss

    Se bem que comida mineira... vixe! Difícil superar...

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  3. escrever sobre comidas e bebidas com a chuva e frio aquí em São Paulo é um atentado, fui atingido,joão carlos.

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