Prometi mandar para meu amigo Oscar, que adora Jipes e Harley-Davidson, as fotos dos meus Land Rovers que restaurei em 1983. Vou aproveitar e colocar aqui no blog para compartilhar com voces esta minha aventura.
Por volta de 1982, fui com o espanhol José Luis Gonzalez Rodriguez (que até hoje trabalha comigo na Cantina Roperto - Bixiga - SP) até o "ferro velho de veículos militares" na BR116. Minha meta era comprar um Dodge 6x6 que estava a venda alguns dias antes. O dono do negócio era um conterrâneo de José Luis e quando chegamos, ele explicou que outro cliente havia arrematado o Dodge. O homem era dono de uma refinaria de alcool e ia utilizar o caminhão para recolher a cana.
Foi uma decepção. Dinheiro no bolso e nada de Dodge. Eu não estava a fim de perder a viagem e perguntei ao espanhol que outro veículo ele tinha naquela faixa de preço. Ele coçou a cabeça e ofereceu um Land Rover verde e preto abandonado num barranco ao fundo do páteo. Pronto. Foi amor à primeira vista.
Meia hora depois estava a bordo do fumacento jipe que só conseguiu chegar com suas próprias forças até o Jockey Club em São Palo. Ferveu! Chamei o guincho e levamos o moribundo para o quintal da Pizzaria Celeste (Vila Mariana - SP) de minha propriedade. Na foto acima, Bimba, o pizzaiolo, curtindo o bichinho.
Depois de desmontado totalmente, comecei o calvário da restauração. O que rodei para conseguir peças para a montagem daria um livro. Os eixos acabei por levar para um mecânico que outrora mexia com os Lands e possuia rolamentos e retentores novos. Foram semanas de agonia. O homem não punha a mão na massa e quando resolveu fazer o serviço, me cobrou os olhos da cara. As molas foram feitas numa travessa da Av. Pacaembú (MM se não me engano). Eles trocaram as finas demais e quebradas, arquearam e trocaram os jumelos. O chassis eu mandei para um mecânico em Santana - SP, que colocou no gabarito e foi lá que conheci o presidente do Jeep Club na época, proprietário entre tantos 4x4 de um Unimog. Feito isso comecei a montar a bagaça nos fundos da pizzaria.
O motor estava OK mas tive alguns problemas com o câmbio que faltavam algumas pequenas peças em forma de feijões de aço perdidos na restauração. O problema foi resolvido até que de maneira fácil: ao lado do cemitério da Aclimação - SP, existia um ingles que possuia um Land Rover longo impecável e um carro de passeio Rover. Bati na sua porta e contei meu problema. O velho homem me levou no seu quintal onde jazia meia duzia de motores e cambios do Land. Ele só disse "Abre qualquer um deles e pega o que quizer!". Sem comentários, o homem era um apaixonado pela marca e não ia me deixar na mão.
Peguei as rodas originais e mandei trocar o aro para que comportasse os pneus Fox Desert, mantendo a distância interna para não ter problema de pneu raspando nos feixes de mola. Finalmente contratei dois funileiros que sabiam mexer com alumínio e montei o bichinho. Não tinha ainda acabado o serviço (pintura, estofamento, etc.) e aconteceu a debacle: numa segunda-feira, dia de folga para nós na pizzaria, uns FDPs depenaram o Jipinho fato que me deixou irremediavelmente desmotivado.
Só me animei quando algum tempo depois, apareceu um maluco vendendo a preço de banana outro Land Rover, 1951, vermelho e em bom funcionamento. Comprei pensanndo em deixar o verdinho como fonte de peças ou até mesmo fazer um enxerto dos dois para obter um em ótimo estado. Lembro que minha filha Bianca tinha uns 5 anos e o meu filho Daniel uns 3 anos quando fomos com o vermelhinho tomar ccafé no aeroporto de Congonhas todos felizes pela Ruben Berta numa tarde de sol...
Bem a história não teve um final feliz. Os proprietários do imóvel onde ficava minha pizzaria não renovaram o contrato; de uma hora para outra me vi sem emprego, sem dinheiro e sem lugar para guardar os jipes. Levei os dois para a praia de Boiçucanga onde estava construindo uma casinha e abandonei os meninos no terreno em frente à obra. Sem recursos para a construção e muito menos para manter os jipes, acabei vendendo por qualquer coisa para um homem que ia transformá-los em draga para colher areia do rio. Vou parar por aqui pois acabo de ficar mau-humorado com essa lembraça de tempos difíceis...
Então, as ondas da vida são assim mesmo, amor. Mas que tal lembrar num próximo post um outro jeepinho que vc teve tempos depois, o Willys 52, e com o qual vivemos bons momentos?
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